As dificuldades enfrentadas pelas empresas catarinenses em relação à movimentação de contêineres e navegação marítima ganharam agravantes no cenário internacional. A escalada do conflito no Oriente Médio e a deflagração da greve de estivadores vinculados à Associação Internacional de Estivadores (ILA) nos Estados Unidos, que paralisou atividades nos portos do Leste e da Costa do Golfo do país, devem afetar as operações mundiais, com reflexos nos fretes e na navegação.
O tema foi debatido nesta terça-feira (1º) durante reunião da Câmara de Transporte e Logística da Federação das Indústrias de SC (FIESC). Ana Carolina Estevão Albuquerque, executiva da empresa de logística integrada de contêineres Maersk, explicou que a greve foi uma surpresa, já que há 50 anos os trabalhadores não tomavam medida tão drástica em suas negociações com as empresas.
Ela avalia que as consequências para o transporte marítimo internacional são incertas, e vão depender da duração da greve e dos planos de contingência para amenizar os transtornos.
No ambiente doméstico, no entanto, Ana Carolina destacou que a situação é menos grave do que em maio, quando foi realizada a última reunião emergencial sobre portos de SC. Os prazos de atracação nos terminais catarinenses que movimentam contêineres foram reduzidos e fatores como a operação padrão do MAPA e Vigiagro não são mais entraves aos processos de comércio exterior. Também contribuiu para uma situação mais previsível a entrada em operação da expansão do Porto Itapoá.
Trazem impactos negativos, no entanto, as obras para expansão do cais da Portonave, que levaram ao fechamento de um dos berços, até início de 2026. A situação do Porto de Itajaí, que ainda não opera na área concessionada para a movimentação de contêineres, é outro fator, sem previsão para normalizar. Eventos climáticos como chuvas, vento, ondas fortes e nevoeiro motivaram o fechamento do canal de acesso aos portos do complexo de Itajaí.
Perspectivas futuras
Recentemente os portos Itapoá e São Francisco do Sul receberam licença para a dragagem do canal de acesso, que vai permitir que navios maiores possam atracar, melhorando a oferta de linhas. Além disso, Itapoá anunciou novos investimentos para 2025, para modernizar gates e adquirir mais equipamentos para melhorar a eficiência da operação.
Até que os investimentos da Portonave e Itapoá estejam concluídos e Itajaí em completa operação, a alternativa é movimentar cargas marítimas como carga geral. E os terminais de uso privado (TUPs) podem ser opções para os industriais catarinenses.
Para o presidente da Câmara de Transporte e Logística da FIESC, Egídio Martorano, “é preciso defender esse potencial, pensar estrategicamente, para atender todas as diferentes necessidades da indústria catarinense.”
O executivo Ricardo Ramos, do Terminal Portuário Barra do Rio, apresentou os serviços disponíveis para as empresas, as características do terminal e também as possibilidades de atendimento às demandas da indústria.
Hoje, o terminal atende clientes como WEG, Tupper, importadores de vinhos, além de importadores de fertilizantes, madeira e produtos químicos, para se ter uma ideia da versatilidade da movimentação de cargas. O terminal recebe navios de até 188 metros e 12,5 mil toneladas. Ramos destacou que para garantir a atracação, o terminal faz sua própria dragagem de manutenção.
O conselheiro da SCPar Marcelo Werner Salles destacou a necessidade do trabalho de dragagem do Rio Itajaí para garantir a operação não só dos portos de Navegantes e de Itajaí, mas também dos cinco TUPs mais ao interior. “Somos ricos em estruturas e pobres em estratégias logísticas. A dragagem potencializa a navegação, teríamos cinco berços à disposição imediata, além de contribuir para a prevenção de enchentes”, salientou.