Aumento no frete marítimo: rota China-Brasil preocupa importador brasileiro


Um momento turbulento tem afetado o comércio de importação marítima na rota China-Brasil. A alta continuada nos valores do frete e a dificuldade de encontrar espaços nos navios têm trazido um momento desafiador no Comércio Exterior, colocando em risco a competitividade das empresas brasileiras e gerando apreensão no setor.

Desde o início deste ano, os preços mais do que triplicaram, passando de uma média inicial de US$ 1,8 mil por contêiner de 20 pés em março para US$ 9 mil no final de junho. A disparada no valor do frete impacta diretamente o preço final dos produtos importados do continente asiático para o Brasil, encarecendo itens como eletrônicos, vestuário, eletrodomésticos, brinquedos e itens de decoração para o consumidor final.

Mas, afinal, o que impacta na alta do frete marítimo?

Maiara Cordova, gerente de importação marítima do Grupo Allog, explica que diversos fatores contribuem para essa conjuntura desafiadora. Os ataques a navios de carga no Mar Vermelho, desde o final de 2023, têm feito parte da frota marítima desviar o percurso pela África, aumentando o transit time em até 20 dias. Além disso, a importação de carros elétricos neste primeiro semestre demandou uma grande parte dos contêineres na rota China-Brasil, impactando diretamente na disponibilidade do equipamento.

O aumento na demanda de importação, no entanto, se estendeu a diversos outros produtos e segmentos, segundo a especialista da Allog. Dados da plataforma Logcomex mostram que, de janeiro a maio deste ano, o Brasil importou 537.194 mil TEUS da China, valor 73% acima ao de janeiro a maio de 2023, quando foram registrados 395.038 TEUs na mesma rota. No Grupo Allog, também houve alta nos volumes trazidos por frete marítimo da Ásia: 16.562 TEUs de janeiro a maio em 2024 contra 11.464 TEUs no mesmo período de 2023. Os números tomam como base embarques chegados no período de janeiro a maio de 2024 e 2023, respectivamente.

E agora? Como ficará o frete no segundo semestre?

Segundo Maiara Cordova, tudo indica que o valor do frete na importação marítima tende a continuar subindo nas próximas semanas, levando em consideração a alta demanda e volume de carga represada que ainda são registrados nos portos chineses. “Só para termos uma ideia, uma carga que sai da fábrica na China leva, normalmente, em torno de 14 dias entre a data da prontidão e a data de saída do navio. Temos informações de cargas que estão paradas há 5 semanas aguardando espaço nos navios”, exemplifica a profissional. Contudo devido a novos fatores como embarcações maiores e serviços adicionais, se faz necessário o monitoramento ainda mais próximo, uma vez que as mudanças são semanais e a dinâmica do frete está cada vez mais sensível.

Leandro Carelli Barreto, especialista em inteligência marítima da Solve, consultoria especializada em shipping intelligence, explica que a disparada no frete marítimo se repete em outras rotas que partem da China, a exemplo das que tem como destino a Europa e os Estados Unidos. “Este novo panorama mudou os fluxos internacionais de carga, pressionando alguns hubports, como Singapura e Tânger (Norte do Marrocos). Isso gera um efeito cascata, tirando capacidade de atendimento do mercado e elevando o preço do frete”, explica.

Em níveis globais, a perspectiva é que os valores subam ainda mais no segundo semestre, muito por conta da demanda que naturalmente cresce a partir de julho para atender os estoques para as festas de final de ano. Na rota China-Brasil, segundo Leandro, no entanto, é possível que o mercado perceba um comportamento diferente. Isso porque armadores como Cosco e CMA CGM estão começando a trazer navios maiores, e a MSC acaba de anunciar um novo serviço de 8 mil TEUs para a América do Sul. “Tudo isso pode resultar em um incremento de capacidade de 30% para o próximo semestre, o que ajudaria a tirar um pouco da pressão. Ainda assim de nada adianta ter mais capacidade nas embarcações se os portos lá fora continuarem congestionados e se os portos aqui no Brasil seguirem com restrições. É preciso resolver a questão do berço 1 da BTP e também garantir que as atividades no Porto de Itajaí retornem o quanto antes”, observa.

Para driblar o momento e garantir a carga dos clientes em menos tempo, o Grupo Allog tem ampliado ainda mais a comunicação com o mercado e buscado alternativas, como rotas paralelas que fazem transbordo (conexão) em outros portos do mundo. “A volatilidade dos preços do frete dificulta o planejamento logístico e estratégico das empresas, gerando instabilidade no mercado. Temos buscado minimizar, o máximo possível, os efeitos da alta no valor do frete para nossos clientes”, cita Maiara.

 

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