Inovação digital: como a tecnologia está transformando a cadeia logística


Dentro da cadeia econômica, portos e modais de transportes avançam a passos largos quando o assunto é soluções digitais em busca de produtividade

A tecnologia mudou as pessoas, as empresas e até as relações internacionais. Definitivamente, nada é mais como era há cinco anos e nada mais será igual daqui a mais cinco. Dentro da cadeia produtiva e econômica, a logística – em especial os portos e os modais de transportes – avançam a passos largos quando o assunto é soluções digitais em busca de produtividade e sustentabilidade.

Desde 2018, por exemplo, a Intermodal South America – um dos maiores eventos do mundo no setor logístico, realizado em São Paulo (SP) – conta com uma área exclusiva para empresas de TI, com soluções de tecnologia e softwares focado no segmento. A Logistique 2019, que acontecerá em agosto, em Joinville (SC), também terá como um dos focos as ferramentas e soluções que resultam em otimização e ganho de competitividade no setor. “Os sistemas de intralogística alcançam saltos na produtividade operacional, geralmente com a integração de tecnologias de processamento de informações e manuseio de materiais que melhoram os processos de atendimento e utilizam de forma assertiva os recursos de mão de obra e equipamentos”, diz o diretor da Logistique, Leonardo Rinaldi.

O sistema portuário brasileiro está entre um dos setores mais estratégicos, por exemplo, para a  Asea Brown Boveri (ABB) em 2019. A multinacional de  produtos para eletrificação, soluções para automação industrial e robótica já tem globalmente diversas soluções digitais baseadas em internet das coisas que reduzem os custos operacionais dos portos, tornando-os mais produtivos e limpos. São três frentes de atuação: OCR (reconhecimento ótico de caracteres), eletrificação e automação de gates.

Uma das apostas é o sistema de reconhecimento óptico voltado para terminais portuários, que automatiza o processo de verificação manual dos contêineres movimentados por guindastes. O sistema já está implantado em mais de 150 guindastes, especialmente na China, Estados Unidos e Holanda e oferece mais precisão e confiabilidade nas operações de terminais automatizados. A expectativa da ABB é que novos terminais no Brasil, como Porto Pontal do Paraná (3P) e Imetame Porto, por exemplo, possam adotar essa tecnologia.

Outros benefícios da digitalização são a confirmação, em tempo real, de eventos de carga e descarga, entrada automática de dados, segurança (nenhum pessoal sob o guindaste) e maior produtividade das operações da embarcação. Tudo é gerenciado a partir de uma sala de controle remoto por técnicos habilitados na tecnologia ABB Ability, que é a oferta digital unificada da ABB e que se aplica a várias indústrias, tendo em comum dispositivos, sistemas, soluções e serviços conectados em nuvem.

Além do reconhecimento óptico, a ABB automatiza os  gates dos terminais, tornando a  operação mais segura e produtiva. A automação reduz custos operacionais e melhora o fluxo do tráfego dos caminhões – operação que é monitorada a distância, também na sala de controle. A companhia ainda incentiva que os terminais a substituírem seus motores a diesel por motores elétricos, iniciativa contribui para que os clientes reduzam suas emissões de CO2 e obtenham certificações ambientais relevantes para o mercado. “Temos soluções capazes de transformar os portos em ambientes seguros, sustentáveis e mais competitivos no mercado global. Ainda que não haja uma regulamentação rigorosa no Brasil, sabemos da relevância em nível internacional e queremos auxiliar os terminais nessa transição”, afirma Peterson Pita, responsável da ABB pela área de negócios Marine & Ports.

Aumento da produtividade

O aumento da produtividade a partir da utilização de novas tecnologias no Tecon Rio Grande, terminal de contêineres do Grupo Wilson Sons, foi um dos destaques da Conferência Navis World 2019. O evento, realizado a cada dois anos e voltado à inovação, reuniu em São Francisco (EUA), no final de março, operadores portuários, fornecedores de tecnologia e especialistas da área de todo o mundo.

Os gerentes Giovanni Ross Phonlor, de Sistemas, e Túlio Borba de Araújo, de Operações, apresentaram os resultados do Tecon Rio Grande para cerca de 400 executivos de terminais portuários de mais de 30 países. O terminal registrou crescimento de produtividade de 45% desde abril de 2017, a partir do projeto de otimização operacional, com a maximização da utilização dos módulos avançados do Sistema Navis N4.

“O excelente desempenho do Tecon Rio Grande tornou nosso projeto um case mundial. Demonstramos como agregamos maior eficiência à operação de navio e pátio, com a aplicação das melhores práticas mundiais, em especial, no uso de equipamentos de cais e pátio”, conta Túlio. Nos últimos dois anos, o terminal realizou investimentos em equipamentos, tecnologia e treinamento da equipe. Entre eles, a aquisição do sistema Navis N4, utilizado nos maiores terminais do mundo, além da aquisição de três novos STS e oito RTG (guindastes móveis utilizados na movimentação dos contêineres no pátio).

Logística na nuvem

Quando o assunto é a rede de transporte, o desafio da década parece ser resumido em duas palavras: logística inteligente. A empresa United Parcel Service (UPS), por exemplo, desenvolveu um software de roteamento que informa ao motorista as melhores rotas de entrega, bem como as etapas de cada caminho, com a ajuda da Google Cloud Platform (GCP). O projeto levou a empresa a economizar US$ 400 milhões por ano, além de reduzir o consumo de combustível de sua frota em 10 milhões de galões ao ano.

Fundada como uma empresa de mensageiros em 1907, a UPS se tornou uma das maiores companhias de entrega de encomendas, transporte especializado e logística do mundo. No centro de sua estratégia está a análise de dados e o aprendizado de máquina, que possibilitam que as empresas deem o próximo passo e transformem digitalmente seus negócios. “Somos gratos pela oportunidade de colaborar com grandes empresas como o Google de uma forma que nos permite usar nossas capacidades em conjunto para reforçar a visibilidade de nossas cadeias de fornecimento em todo o mundo”, afirma Juan Perez, diretor global de informações da UPS.

Uma alavanca para o crescimento, diferenciação e desempenho, a digitalização facilita e simplifica o relacionamento com os clientes para proporcionar uma experiência perfeita e mais eficiente. O Grupo CMA CGM, líder mundial em transporte e logística, acaba de lançar o CMA CGM eSolutions, um ambiente totalmente digital composto por uma agência on-line e outros canais de comércio eletrônico, como o Electronic Data Interchanges (EDI) e Application Programming Interfaces (API), que permitem a transmissão digital de informações e dados relevantes aos clientes.

A grande maioria dos bookings é feita a partir de suas soluções de eCommerce, entre as quais metade são feitas por meio de  plataforma web do grupo. Como parte de suas eSolutions, a CMA CGM oferecerá o embarque prioritário para seus clientes usando sua plataforma digital, permitindo-lhes garantir espaço a bordo. Oferecido pela primeira vez pela companhia da Índia à Europa, o embarque prioritário será gradualmente oferecido a outros países e operadoras dentro do grupo.

Solução de estufagem

Referência nacional em inteligência na logística de contêineres, a Brado desenvolveu uma máquina exclusiva para facilitar as operações multimodais no terminal de Cambé, no norte do Paraná. Denominada estufadeira de sacas, a novidade consiste em uma esteira instalada sobre trilhos e com ajuste multidireciona que executa de forma ordenada o deslocamento da carga do caminhão direto para o contêiner (operação crossdocking).

Em operação desde março, o equipamento leva em média 40 minutos para fazer a estufagem completa de um contêiner de 20 pés, o que corresponde a cerca de 540 sacas empilhadas, com peso equivalente a 27 toneladas. Desenvolvido em apenas seis meses, o equipamento passou por uma série de testes e adequações. A estufadeira foi desenhada de acordo com as medidas padrões dos caminhões que descarregam no terminal e respeitando a ergonomia dos colaboradores. “Todos os colaboradores da área receberam treinamentos para manusear o equipamento, eliminando o esforço físico que era necessário para executar a atividade de estufagem de contêiner do açúcar”, afirma Zuleica de Melo, gerente executiva de Engenharia de Inovação e Qualidade da Brado.05

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